Versando 2

Lembranças

Esqueço  coisas agradáveis ​, não porque eu queira,

Mas para sobreviver é preciso esquecer!

Acordes da alma lembram o perfume das  rosas

em volta daquela cadeira no jardim …lembrando a nostalgia da noite passada ..

Obrigado pelas  lembranças, estou grato por  minhas memórias ..

Quase toda noite sempre elas veem em forma de preocupações

e a dor no meu peito abraça a memoria, que não me deixa dormir

e me mantem acordada olhando para um novo dia que se inicia, esperança, mas

Miserável de mim que me sinta como se estivesse em uma casa assombrada

Com portas trancadas e nos corredores, lembranças  passeiam com os pés descalços.

Machucam como  vidro quebrado debaixo dos meus pés …

Procuro uma maneira de sair …. um vislumbre de esperança de longe …

O telefone toca … o tom de sua voz longe, e perto, me sussurando,

Pergunta se estou bem, acho que sim

Não há nada errado.  Eu estou bem!  Claro que sim

Vou ficar bem, enquanto ouvir sua voz….

Reh

Versando

Na sala das memórias

Na sala escura da auto piedade minhas memórias e eu vivemos em plena comunhão com a alegria.

Não guardo na memória a dor, mas, inevitavelmente, das profundezas saem lembranças dolorosas, como se fosse um beijo na testa, rápido e respeitoso, eu apesar da lembrança, sorrio…elas só existem porque vivi, não me poupei de viver a alegria do amor e a dor do desamor, ambos são partes desta experiencia que é viver.

Não há luz, apenas o som das gotas de água da torneira  da casa… lembrando que um coração partido por tantos golpes, um após o outro, com dificuldade ainda se recupera, como se o oxigênio acabasse, mas insiste em buscar o ar.

Eu tento continuar sonhando, enquanto eu espero que a alegria retorne, talvez retorne  e eu seja feliz outra vez, perdida, ouço a porta …a esperança renasce…delicio-me na espera…e sinto a vida outra vez…

Eu não sei … Realmente não sei o que aconteceu, acho que você me convidou para imaginar quão instáveis são nossas memórias saturadas de dor e gemidos ….

Mas foi minha necessidade de ouvir minha tristeza, que me fez pintar meus sonhos com a cor da escuridão, renascendo nas histórias em que minha memória insiste em rememorar, e volto a sorrir para as minhas tristezas, são  partes de mim.

Lembranças felizes batem em meu ombro e tranquilizam-me e dizem que ainda estou em você.

Eu quase me arrependo de ter estado na sala com a tristeza, no entanto, é ela que me lembra que ainda estou vivo !

Tranformo minhas lágrimas de tristeza em gargalhadas falsas, apenas para abster-me de obter restos de falsas alegrias, e ouvindo o som da gargalhada,  que quase havia esquecido e  volto a sorrir …parece gemidos ou risos…confundindo a tristeza para que a minha alegria retorne ..

Então engano a tristeza, fingindo uma alegria que assume seu lugar e se torna real.

Por favor, preciso de uma xícara de café quente e forte para afastar o frio e a tristeza…que vem com ele !

Reh

cats

Medo/Ausencia-poemas

Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.

Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,

não cantaremos o ódio, porque este não existe,

existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,

o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,

o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,

cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,

cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.

Depois morreremos de medo

e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,

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ninguém a rouba mais de mim.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE