Mas é nos principados novos que residem as dificuldades. Em primeiro lugar, se
não é totalmente novo mas sim como membro anexado a um Estado hereditário
(que, em seu conjunto, pode chamar-se “quase misto”), as suas variações
resultam principalmente de uma natural dificuldade inerente a todos os principados
novos: é que os homens, com satisfação, mudam de senhor pensando melhorar e
esta crença faz com que lancem mão de armas contra o senhor atual, no que se
enganam porque, pela própria experiência, percebem mais tarde ter piorado a
situação. Isso depende de uma outra necessidade natural e ordinária, a qual faz
com que o novo príncipe sempre precise ofender os novos súditos com seus
soldados e com outras infinitas injúrias que se lançam sobre a recente conquista;
dessa forma, tens como inimigos todos aqueles que ofendeste com a ocupação
daquele principado e não podes manter como amigos os que te puseram ali, por
não poderes satisfazê-los pela forma por que tinham imaginado, nem aplicar-lhes
corretivos violentos uma vez que estás a eles obrigado;

porque sempre, mesmo que fortíssimo em exércitos, tem-se necessidade do apoio dos habitantes para penetrar numa província.
Foi por essas razões que Luís XII, rei de França, ocupou Milão rapidamente e logo depois o perdeu, para tanto bastando inicialmente as forças de Ludovico, porque aquelas populações que lhe haviam aberto as portas, reconhecendo o erro de seu pensar anterior e descrentes daquele bem-estar futuro que haviam imaginado, não mais podiam suportar os dissabores ocasionados pelo novo príncipe.
Nicoló Macchiavelli
“O Príncipe ”
1500